domingo, 4 de setembro de 2016

Jogos Olímpicos, economia e política - E.M. Profª Rosângela Duarte Faria/turma 901

Jogos Olímpicos, economia e política
É difícil ficar indiferente aos Jogos Olímpicos. Durante as semanas em que dura o evento, as competições, os dramas pessoais dos atletas e a contagem de medalhas dominam as conversas. É praxe, também, lamentar a falta de preparação de nossos atletas, comparada com a de outros países que dão prioridade maior ao esporte. A esperança de medalhas fica por conta de alguns poucos solitários heróis, e dos esportes coletivos.
Por outro lado, Estados Unidos e China dominam o quadro de medalhas. A China substituiu a antiga União Soviética no papel de contrapeso ao poderio norte-americano. Transfere-se, assim, a disputa econômica e política para o campo esportivo. É de senso comum que um país tem sucesso nas Olimpíadas ou por ser rico (caso da Alemanha), ou por usar o esporte como vitrine de um determinado modelo econômico (caso da China), ou ambos (caso dos EUA). Ser rico, no entanto, não basta. Vejamos, por exemplo, o caso do Japão. Trata-se de um país populoso, com uma das maiores rendas per capita do mundo. Veja o gráfico a seguir:
No eixo vertical, temos o número relativo de medalhas em cada Olimpíada, tanto de ouro quanto o total. Note que o Japão havia conseguido atingir um patamar entre 4% e 6% de medalhas conquistadas nas Olimpíadas antes da 2a Guerra, e havia recuperado este patamar no pós-guerra. A Olimpíada em Tóquio é um ponto fora da curva (veremos mais para frente o efeito de fazer uma Olimpíada em casa), mas note que o patamar continua o mesmo. A partir de 1988, no entanto, algo aconteceu, e este patamar caiu para algo em torno de 2%, melhorando um pouco nas duas últimas Olimpíadas, mas sem voltar ao patamar anterior. O que terá acontecido? Será este um sintoma do envelhecimento da população japonesa? Não tenho a pretensão de ter as respostas a essas questões, mas apenas mostrar que riqueza não é necessariamente sinônimo de sucesso nas Olimpíadas.
Outro caso na mesma linha é o dos países escandinavos (Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca). Vejamos:
Note como o padrão mudou radicalmente a partir da Olimpíada de 1960, e de lá para cá só vem piorando. Não me consta que esses países ficaram mais pobres, ou que as políticas públicas sejam ruins. Pelo contrário. Talvez um fator que explique este comportamento tenha sido a entrada em cena de um outro tipo de competidor: os países que usam o esporte como vitrine do sucesso de seu sistema econômico e político.
A Alemanha, em 1936, foi o primeiro país que usou os Jogos Olímpicos para este fim. Vejamos:
Note que há um pico completamente fora do histórico em 1936. Há o fator “casa”, sem dúvida, mas também houve um preparo especial para mostrar que a raça ariana era superior. O crescimento pós-guerra se deu em outro contexto, ainda que pelo mesmo motivo: a máquina de ganhar medalhas montada pelos países comunistas (no gráfico acima, a Alemanha Oriental está incluída nas estatísticas).
Cortina de Ferro era a denominação dada aos países da Europa Oriental na órbita da antiga União Soviética. Veja como entre as Olímpiadas de 1972 e 1988, esses países dominaram os Jogos, abocanhando cerca de 50% das medalhas (desconsiderando a de 1984, onde a maioria desses países não compareceu). Depois do colapso da nave-mãe em 1989, o número de medalhas despencou, mas ainda permaneceu em patamar elevado (cerca de 30% do total), mostrando que o investimento feito no esporte permanece no tempo. Mais recentemente, a partir de 2004, vemos que o número de medalhas parece ter começado a diminuir novamente. Vamos ver o que acontece agora nesta Olimpíada.
Antes de entrar no caso da China, dois gráficos adicionais sobre a União Soviética:

A partir de 1992, estes dois gráficos foram construídos com base na soma das ex-repúblicas socialistas soviéticas, uma vez que a URSS deixou de existir. Note como tanto os EUA quanto a antiga URSS perderam a hegemonia que tinham até as Olimpíadas de 1976, quando chegaram a ter, somados, quase 50% das medalhas (os anos de 1980 e 1984 foram retirados das séries por serem anos de boicote, o que poluía os gráficos). Observe também que, mesmo com o fim da URSS, estes países continuam a ter um desempenho decente. Ou seja, aquele investimento feito para exaltar o regime, permaneceu dando os seus frutos muitos anos depois.
Agora, a China:
Sabe porque o gráfico começa somente em 1984? Porque este foi o ano em que a China ganhou a sua primeira medalha de ouro em Olimpíadas! Mesmo em termos de medalhas de outras cores, a China só havia ganho outras duas antes: uma nas Olimpíadas de 1960 e outra na de 1968. Ou seja, a China só começa a existir no mundo olímpico a partir das Olimpíadas de Los Angeles. O crescimento a partir daí, principalmente no que se refere às medalhas de ouro, é incrível. Este desempenho (cerca de 17% das medalhas nas Olimpíadas de Pequim) só é comparável ao dos EUA e URSS das décadas de 70 para trás. A que se deve? Certamente muito investimento no esporte, visto como vitrine privilegiada do regime. Chegam-nos histórias escabrosas sobre treinamentos desumanos, crianças separadas de suas famílias para treinar em tempo integral em instalações estatais, etc. De certa forma, o paralelo com a economia é inevitável: todos gostam dos resultados, mas não querem os meios pelos quais foram alcançados. E, a julgar pelo desempenho atual das ex-repúblicas soviéticas, e mesmo pelos países que fizeram parte da Cortina de Ferro, podemos nos preparar para muitas décadas de presença chinesa nos pódios olímpicos.
O grande perdedor neste processo, sem dúvida alguma, foram os Estados Unidos. Vejamos:
A escala foi ajustada, de modo que o ponto da Olímpiada de 1904, em New Orleans, ficasse de fora. Neste ano, os EUA ganharam inimagináveis 85% de todas as medalhas disputadas! Para que o gráfico ficasse menos distorcido, optei por deixar este ponto de fora. Também os anos de 1980 e 1984 não aparecem, por serem anos de boicote e, portanto, não representativos. Neste gráfico de longo prazo podemos ver com mais clareza como os EUA perdem a hegemonia a partir da década de 80, com a chegada da China. Note também como o número de medalhas de ouro cai mais do que proprocionalmente. Antes, os EUA tinham maior efetividade, ficando em primeiro lugar mais vezes. Isso já não vem mais acontecendo nas duas últimas Olimpíadas, pois a China vem sendo mais efetiva. Mais uma vez, as Olimpíadas refletem a economia: para quem esperava um mundo com uma única super-potência depois da queda da URSS, foi surpreendido por uma economia muito mais polifacética, com o surgimento de outros centros de poder econômico e político.
E o Brasil? Qual tem sido o desempenho dos atletas brasileiros em olimpíadas? Vejamos:
De fato, estamos a anos-luz do desempenho de uma China, ou mesmo de países do bloco intermediário, como Itália, França ou Hungria. Mas, olhando o copo meio cheio, temos melhorado de maneira mais ou menos consistente desde a década de 80, principalmente quando se observam o total de medalhas. Obviamente, para se conseguir resultados melhores, é preciso muito mais investimento. Mas o enriquecimento do país, por si, já traz algum resultado. Podemos ver isso comparando-se o nosso desempenho com o da Argentina, por exemplo:
Note como a Argentina anterior à 2a Guerra obteve muito mais sucesso do que a Argentina pós-Guerra. E, ao contrário, como o Brasil pré-Guerra é praticamente inexistente em termos olímpicos, para depois proguedir, principalmente a partir da década de 80. Outro retrato fiel da economia. A Argentina chegou a ser uma das 10 nações mais ricas do mundo, mas foi perdendo competitividade na medida em que tomou decisões erradas de política econômica, preferindo o populismo a políticas sólidas. Hoje é uma sombra do que foi.
Por fim, vamos analisar o fator “casa” no desempenho dos países. Já vimos mais acima que, nos casos do Japão e da Alemanha, o fator “casa” foi relevante. Vejamos mais três casos: México (1968), Espanha (1992) e Coréia do Sul (1988):


Vejamos primeiramente o caso do México. O país sempre foi uma nulidade em termos olímpicos. Houve claramente um ponto fora da curva em 1968, com as Olimpíadas em casa, e depois voltou a ser uma nulidade. Ou seja, sediar os Jogos não serviu para dar impulso ao esporte olímpico naquele país.
O caso da Espanha não foi muito diferente, ainda que o patamar posterior seja superior ao anterior às Olimpíadas naquele país. Mas este patamar posterior pode ter sido função apenas do enriquecimento do país, principalmente depois da constituição da União Européia, e não fruto de investimentos específicos no esporte. Por que digo isso? Vejamos o caso da Coréia do Sul.
A Coréia sediou os jogos de 1988. Mas note que houve um crescimento expressivo no número de medalhas já em 1984. Ou seja, aparentemente, houve um investimento bastante significativo em esporte já como preparação ao evento, o que se traduziu em um maior número de medalhas nos Jogos anteriores. Seguindo a regra, o ano da Olimpíada em casa foi um ponto fora da curva, mas o recuo posterior foi muito menos pronunciado do que nos casos de México e Espanha. Hoje a Coréia transita na faixa dos 4%-5% das medalhas, mesmo patamar das grandes potências européias. Uma parte disso vem, certamente, do enriquecimento do país, mas deve haver também políticas direcionadas ao esporte. Note que o patamar anterior aos Jogos de 1984 são semelhantes aos do Brasil na mesma época. Hoje a Coréia é uma potência do esporte, pois usou as Olimpíadas em casa como um motor para mudar de patamar.
Pelo que vimos até aqui, é certo que bateremos recorde de medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. E nos ufanaremos pelo feito. No entanto, 0 que estamos fazendo para que este efeito tenha caráter permanente?

Fonte: http://www.drmoney.com.br/economia/jogos-olimpicos-economia-e-politica/

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