Por que a maioria dos cidadãos do sul quer
um país independente?
Assim como no
restante da África, as fronteiras do Sudão foram desenhadas por potências
coloniais pouco preocupadas com as realidades étnicas e culturais da região.
Enquanto o
Sudão do Sul tem uma paisagem repleta de selvas e pântanos, o norte é mais
desértico.
A maioria da
população do norte é muçulmana e fala árabe; o sul é composto de vários grupos
étnicos, de maioria cristã ou animista.
Com o governo
centralizado no norte, em Cartum, a população no sul se dizia discriminada e
rejeitava tentativas de imposição da lei islâmica no país. Os dois lados
lutaram entre si durante a maior parte de sua história.
O que acontece após a independência?
Agora é que
começa o trabalho duro. Norte e sul ainda têm de chegar a um acordo em relação
a temas como:
- Traçado da
nova fronteira e como ela será controlada
- Como dividir
a dívida do Sudão e os royalties do petróleo do novo país
- Que moeda
será adotada pelo novo país
- Que direitos
os sulistas terão no norte, e vice-versa
O Sudão do Sul está pronto para a
independência?
A verdade nua
e crua é: não.
Após viver
anos em guerra e desdenhado pelo governo central, o novo país – que é maior do
que Espanha e Portugal juntos – quase não tem estradas; também faltam escolas e
serviços de saúde para a população de cerca de 8 milhões.
Região fronteiriça de Abyei, palco de
confrontos em maio
Regiões
fronteiriças como Abyei, rica em petróleo, ainda despertam disputas entre norte
e sul
Apesar de seu
potencial para a agricultura, 95% das receitas do novo país vêm do petróleo.
“A vida no
Sudão do Sul provavelmente será precária nos anos futuros”, disse à BBC o
analista especializado em Sudão Douglas Johnson.
Os ex-rebeldes
do grupo SPLM, que têm controlado a região desde 2005, ganharam alguma
experiência em governabilidade e lucram com os poços de petróleo do sul
sudanês. Também elaboraram planos ambiciosos para desenvolver suas cidades e
realizaram um concurso para a composição do hino nacional.
Mas críticos
dizem que, até agora, o grupo desperdiçou muito desse lucro em gastos
militares, e pouco em medidas que aumentem o padrão de vida em uma das regiões
mais pobres do mundo. Também há acusações de corrupção, autocracia e
favorecimento tribal.
Alguns dizem
que o SPLM é dominado por membros do maior grupo étnico do Sudão do Sul, os
dinkas, acusados de ignorar as demandas de outras comunidades – em especial da
segunda maior etnia da região, os nuer.
Um observador
da situação sudanesa disse à BBC, em condição de anonimato, que “não me
surpreenderia se o Sudão do Sul se tornasse uma nova Eritreia”.
Em 1993, os
eritreus votaram maciçamente em favor da independência da Etiópia. Atualmente,
a Eritreia é considerada uma das nações mais opressivas do continente.
Como Cartum vê a independência do sul?
Nesta
sexta-feira, o governo do presidente sudanês, Omar al-Bashir, reconheceu
formalmente a independência da parte sul de seu país.
Mas, desde o
referendo de janeiro, regiões na fronteira entre sul e norte, como Abyei e
Kordofan do Sul, têm vivido uma onda de confrontos, levantando temores de uma
nova guerra.
Os dois lados
assinaram diversos acordos de paz, mas as tensões permanecem.
População em Juba comemora independência do
Sudão do Sul
Independência
foi comemorada, mas novo país nasce com muitos desafios
O SPLM acusa o
governo sudanês de financiar rebeliões, para desestabilizar o Sudão do Sul, mas
Cartum nega as acusações.
Ainda que o
novo país esteja tentando forjar laços com países como Uganda e Quênia, manter
boas relações com o vizinho do norte será crucial.
O que acontecerá com o norte?
A prioridade para
Cartum, agora, é tentar manter para si o máximo de lucros originados da
produção de petróleo do país.
Ao mesmo tempo
em que a maioria dos poços fica no Sudão do Sul, o norte tem a maioria dos
oleodutos que escoam o combustível para o mar Vermelho.
A fronteira
entre o sul e o norte, rica em petróleo, ainda não foi demarcada, então existe
a possibilidade de que ocorram disputas pelo controle dos poços.
No que diz
respeito à vida dos cidadãos comuns, ambos os lados concordaram em permitir que
todos os sudaneses – em especial os sulistas radicados em Cartum – escolham
qual nacionalidade terão.
Mas os planos
de Bashir de implementar uma rígida versão da sharia (a lei islâmica) no norte
do país pode afugentar os sulistas da região.
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