Histórico
A Crimeia, península que
atualmente pertence à Ucrânia, mas tem maioria de população russa e regime de
república autônoma, fez parte da Rússia desde o século XVIII. A região também
foi membro, autonomamente, da República Socialista Federativa Soviética Russa,
de 1921 a
1945, ano em que
Josef Stalin deportou a população de origem tártara da
Crimeia e a destituiu de autonomia.
Em 1954, o líder soviético Nikita
Kruschev transferiu o território da Crimeia para a Ucrânia, em um gesto
simbólico de amizade. A autonomia da região foi restaurada no último ano de
existência da União Soviética e fim da Guerra Fria, em 1991. No entanto, as
tensões separatistas foram uma constante durante os anos seguintes, sendo
sempre apaziguadas pela Ucrânia e contornadas através de acordos com a Rússia.
Em consequência ao temor
ucraniano com a situação, no Memorando de Budapeste, assinado em 1994, os EUA,
Reino Unido e Rússia comprometem-se a garantir a independência e as atuais
fronteiras da Ucrânia. Em troca, o governo ucraniano abdicou do terceiro maior
arsenal nuclear do mundo, mantido após o desmantelamento da União Soviética,
além de assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
A ex-potência soviética, contudo,
possui fortes interesses na Crimeia pelo fato de esta ser localizada às margens
do Mar Negro – único porto de águas quentes da Rússia, que dá acesso ao
Mediterrâneo. Os portos da Crimeia também escoam a produção agrícola da Ucrânia
e servem de pontos de exportação, para a Europa, do gás natural russo. A
Crimeia também é uma grande produtora de grãos e vinhos, com forte atuação na
produção alimentícia.
A crise
Em novembro de 2013, o então
presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych anunciou em comunicado oficial que
havia desistido de assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia,
preferindo priorizar suas relações com a Rússia. No dia 21 do mesmo mês,
milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a decisão, o que resultou em
repressão violenta e dezenas de manifestantes mortos.
No dia 22 de fevereiro,
Yanukovich deixou a capital do país, Kiev, e foi afastado da presidência pelo
Parlamento do país. Foram convocadas eleições para maior deste ano e um governo
interino foi montado.
Na Crimeia, o parlamento local
foi tomado por um comando pró-Rússia, que nomeou um novo premiê e aprovou sua
independência e posterior anexação à Federação Russa. O governo é considerado
ilegítimo pela Ucrânia, que pede às forças internacionais que não o reconheçam.
Com as tensões, o Parlamento
russo aprovou o envio de tropas à Crimeia. Os EUA e outros países ocidentais
posicionam-se a favor da Ucrânia e anunciaram pacotes bilionários de ajuda ao
país, além de impor sanções e exigir que a Rússia retire imediatamente o
contingente militar enviado. O governo da Casa Branca acusa, ainda, a Rússia de
violar o Memorando de Budapeste, por interferir diretamente nas fronteiras
ucranianas.
O referendo
Mesmo com forte oposição da ONU,
foi realizado o referendo popular na Crimeia que decidiria pela separação da
península da Ucrânia e anexação ao território russo, opção que acabou por
vencer com mais de 95% dos votos.
No entanto, uma pesquisa feita
antes da invasão revelou que apenas 42% dos habitantes eram favoráveis ao
desmembramento, o que levantou suspeitas na comunidade internacional de que o
resultado do referendo possa ter sido manipulado. EUA e União Europeia
reiteraram que a votação nunca será reconhecida pela comunidade internacional.
Após o referendo, o governo de
Moscou anunciou que consideraria a Crimeia como parte de seu território a
partir de terça-feira. Nesta quarta, por unanimidade, o Tribunal Constitucional
da Rússia considerou legal a assinatura do tratado que anexa a Crimeia a seus
territórios pelo presidente Vladimir Putin. “A Crimeia sempre foi parte da
Rússia nos corações e mentes das pessoas“, declarou Putin em um pronunciamento
em Moscou, após a assinatura.
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